<$BlogRSDUrl$>

quarta-feira, março 30, 2005

Da utilidade do SULturas Light (pasquim regional de incontinência mental) - edição em papel, obviamente:

A-B-C-D

A) Portugal tem, orgulhosamente só na Europa, um milhão de analfabetos em idade adulta. São nove por cento da população, senhores!
B) Se por acaso não sabe ler o que aqui está escrito e não tem culpa disso, peça a alguém que o faça, pois criámos, a pensar em si, uma utilidade extra para esta edição.
C) Arranque uma pedra de calçada portuguesa (basta abanar energicamente um sinal de trânsito), embrulhe a pedra no pasquim e arremesse contra a cabeça de um político influente que se cruze por si.
D) Alegue posteriormente que foi a única coisa que soube fazer com a nossa publicação. Nós assumimos clandestinamente a responsabilidade de tal acto.

Enquanto o SULturas Light Nº3 está a fermentar, deixo-vos com um registo do Nº1. E para que não hajam equívocos ou más interpretações quanto à demora, volto a frisar que a publicação tem periodicidade imprevista - facto de que me orgulho. Bem-hajam leitores pacientes.

NOITADAS E REGABOFES

O povo sempre o disse reiterada e alegremente: putas e vinho verde. A coisa refinou pouco desde então, porque nada refinados são os mentecaptos que lideram as hostes nocturnas, ficando a filosofia, na actual expressão dos “gandas” malucos da noite, pelo: “gaijas” e Moët. Passou-se do cheiro a lavanda e atitude de traque, ao odor a Chanel e postura de arroto. Evoluiu-se como o caneco, está bem de se ver. Quanto a mim, pelos problemas de efusão gástrica e remansos de profusão mental, fiquei-me pelo vinho tinto e por uma esteta espiritual de ocasião, que saiba aspirar-me a alma. E posto isto, que não interessa para coisa alguma, mas dá contexto ao tema e estilo à prosa, avancemos na dissertação dissecada das noites a que nos obrigam.
Em boa hora descobri que Sevilha é já aqui ao lado. O que os espanhóis têm de bom? Tudo, excepto a soberba de alguns indígenas. Mas oh! se os compreendo: os cabrões têm espanholas. E só isso já explicaria tudo e bastaria para redenção. Mas não senhor. A cambada tem também atitude, salero, boa disposição, franqueza, movida e ganância de viver. Um povo que se mata a trabalhar durante cinco dias, esfalfa-se com diversão no fim-de-semana. Dois espanhóis juntam-se e decidem fazer uma festa. Se não aparecer mais ninguém, só esses dois, onde quer que estejam, são um happening de arromba. Olé!
Nós por cá temos, tão somente, gente empertigada, porque não produzem um corno, com ar de desdém, invariavelmente estacionados de copo na mão e que, na impossibilidade genética de se divertirem ou sequer imaginar um pouco mais além, coscuvilham acerca dos sapatos, das amantes, dos carros ou das camisas dos outros. Ah! fantásticos curtidores! E como se tudo isto não bastasse, para querer automaticamente ser estrangeiro, temos ainda a falta de criatividade e lamechice dos organizadores de eventos, dos fazedores dos cenários das noites e dos empresários obsoletos das mesmas, de modo a que também não reste muito aos utentes, excepto isso mesmo: estupidificar com arrogância, apodrecer mentalmente e acidificar contra terceiros.
Assim sendo, havemos de ir longe...

quarta-feira, março 23, 2005

INQUÉRITO

V. Exa. sempre foi excelentíssimo desde o berço, ou dar-se-á o caso de ter sido sorteado no acaso da puta da vida?
V. Exa. sabe avaliar-se?
V. Exa. sabe avaliar os outros?
V. Exa. considera-se útil?
Se sim; V. Exa. é útil para si ou para os outros?
V. Exa. considera-se uma pedra rara?
Se não; V. Exa. considera-se um imbecil?
V. Exa. acha que merece o que tem?
V. Exa. tem o que merece?
V. Exa. crê em Deus?
V. Exa. acredita que Deus tenha complacência e paciência para taralhoucos como V. Exa?
V. Exa. é dependente da propriedade?
V. Exa. é propriedade de alguém?
V. Exa. faz alguma coisa produtiva que chegue a justificar aquilo que come?
Ou V. Exa. faz de conta como quase todas as Exas.?
V. Exa. come muito?
V. Exa. defeca em paz?
V. Exa. acumulou os seus bens de forma aleatória ou roubou de forma planeada?
V. Exa. sabe o que é o sentido crítico?
V. Exa. critica fundamentadamente?
V. Exa. sabe pensar?
V. Exa. fica com tonturas quando tem um pensamento original?
V. Exa. fica somente com tonturas?
V. Exa. é conservador porque tem medo do futuro?
V. Exa. é progressista porque tem horror aos antepassados?
V. Exa. tem fobias gerais?
V. Exa. tem cagaços particulares?
V. Exa. considera que o mundo sem si seria apenas uma chatice para os outros? V. Exa. sabe considerar?
V. Exa. é corrupto?
V. Exa. corrompe outras Exas.?
V. Exa. fornica com regularidade?
V. Exa. é fornicado com assiduidade?
V. Exa. engasga-se com sexo oral?
V. Exa. sabe o que é a honra?
V. Exa. sabe o que é ser uma merda?
V. Exa. tem princípios ou somente fins?
V. Exa. tem valores ou o valor do dinheiro é a sua religião?
V. Exa. tem tomates?
V. Exa. sabe o que fazer com eles?
V. Exa. atrapalha-se quando fala?
V. Exa. sabe falar?
V. Exa. sabe ouvir?
V. Exa. padece de ecolalia?
V. Exa. já captou o sentido da sua vida?
V. Exa. tem uma vida de treta?
V. Exa.?

terça-feira, março 15, 2005

Enquanto a PORTUGALNIGHT de Março não sai, antecipo a minha página. Quando estiver nas bancas e locais habituais apressem-se a comprá-la ou apanhá-la. Mas comprem que é muito melhor para nós. Obrigado pela preferência.

Cá por mim já são dez anos!

Creio, se não estou tramouco e vasculhando na minha memória, que faz dez anos por um dia destes – mas mande-me a redacção um postal da efeméride, quando colaborei pela primeira vez na então Inédita do Miguel Barreto. O amigo mantém e muito bem o nome, a revista passou a chamar-se PORTUGALNIGHT. Foi com gosto e com arreganho que colaborei então e colaboro agora, não tanto com muito empenho - a preguiça é terrível, mas ainda assim com toda a convicção e sempre assente nos meus valores e ideais de vida. “Portugal à noite” foi o chavão que mais tarde criei para definir toda a filosofia adjacente a que nos propúnhamos com a publicação. Simples, eficaz, despretensioso, e no entanto, abrangente e audacioso pelo universo que se pretendia cobrir. Assim era o chavão, assim era a edição. Sem a veleidade de obter honras do grande público, muito menos do patético mundo dos galardoados da fama barata, sem vendermos a alma e sem perdermos a equidistância dos parentes paralelos da informação – apagados e murchos, diga-se de passagem. Fomos país dentro, noite fora, madrugadas adentro, olheiras encovadas e cafés em esplanadas, em busca do que se busca na demanda das noites desta pátria. Encontrámos de tudo. Falámos de tudo e com todos. E sabemos bem tudo o que vimos e vimos bem tudo o que sabemos. Aprendemos e mostrámos. Não estamos aqui para ensinar. A minha sabedoria tem fonte segura num gin-tónico e isso não se transmite. Somos boémios por vocação. O talento – ó gargalhada, advém daí. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, mudam-se as tretas, as modas, as estéticas, os governos, ó meu Deus e as apetências. Enfim, o mundo muda e avança. E eis que chegámos ao cerne da questão. Se o leitor não deu por isso, eu explico: avançar não é sinónimo de mudar. Gente grande não muda, avança. O que mudam são as circunstâncias. E as circunstâncias mudaram sim senhor. Nada disso contudo connosco. Não mudámos um centímetro. Avançámos galáxias. Percorremos uma década. Mas enriquecer nicles. Somos assim, o que é que querem? Continuamos conservadores, já o éramos então, pelo direito à individualidade e à independência. Continuamos vanguardistas, já o éramos então, sedentos de novidade. E, no meu caso, pessoalmente elitista: acredito muito precisamente em mim e em quem saiba ser tanto quanto eu. Nunca precisámos de andar em cima do acontecimento: o acontecimento fomos e somos nós. Para nos vendermos teríamos de ter compradores à altura. Não existem. Abrimos apenas uma excepção para o tio Balsemão – depende do valor do cheque. Estou a brincar. Estou a falar a sério. Coisas da vida e do cansaço em movimento. Mas, apesar de tudo, prosseguimos a saga de radiografar Portugal à noite.
Agora, sem querer ser peçonhento, tenho a dizer o seguinte: as verbas já eram curtas nesses tempos de vacas mais gordas, mas neste momento vivem-se tempos de míngua, compreendemos. Ó bolas pá, não queremos compreender! Ó pinderiquice nacional. Ó pouca coisa com cheque pré-datado eventualmente de borracha. Patrocinadores com pinta precisam-se! Gente com arcaboiço para fazer da noite deste país uma coisa séria e grande e tudo. Sabemos que temos o poder de “fazer casas” ou de arrasar as mesmas se estivermos maldispostos. Já mobilizámos mais gente para as noites que o Partido Comunista para os seus comícios e arraiais. Temos preceito, trambelhos, ética e nada de má-fé. Estamos quietos no que respeita a demolições, embora haja quem as mereça. Louváveis as honrosas excepções de alguns empresários, que tal como nós sempre acreditaram no nosso projecto pelo que este implica e sabem empreender as suas ideias sem ligarem à mediocridade dos vizinhos.
São poucos, persistentes e bons. E quanto a críticas apenas as fundamentadas, que a lucidez a isso nos obriga. Temos o bom senso do bom gosto e não fazemos peixeirada. E é por isso mesmo que é de muito mau gosto ficarem-nos a dever. Se esta coisa emperrar, é a noite em Portugal que fica a perder. Não sejam capazes de tal anti-patriotismo. Uma folha só apodrece com o consentimento da árvore – não sei onde já ouvi isto, mas faz todo o sentido para arrematar esta aventura de dez anos.

sábado, março 12, 2005

Um ano e um dia depois

Que não pensem que nos intimidam
Que não creiam que não cremos
Mesmo que façam o que sempre mandam
Os que nem sonham o que queremos
Pois despercebidos não passam
Porque nunca nos esqueceremos

quarta-feira, março 09, 2005

Estou em fase de descolagem sazonal qual andorinha assarapantada. É sempre assim com o aproximar da Primavera. Chega-me o arreganho todo e a iniciativa endiabrada ao mesmo tempo. Ele é o fermentar do SULturas Light Nº3, ele é o botar crónica para a PORTUGALNIGHT, ele é programa radiofónico em banho-maria, ele é crónica sobre as noites do Algarve, ele é o congeminar magazine para a KADOC, ele é organizar uma exposição de fotografia, ele é compilar o famigerado livro, ele é caçar patrocínios para isto tudo. E quanto ao blog nicles. Habituem-se nos próximos tempos a mui espaçados posts e dai-me Senhor fôlego para todo o resto. Ámen.

segunda-feira, março 07, 2005

QUOTIDIANO

Fim de tarde. Melancólico e desesperado. Todos regressam fatigados e enfastiados, pensando no dia de amanhã igual a tantos outros mas contendo em si a esperança. A esperança contudo desfaz-se no fumo cinzento que paira sobre a cidade. O Sol desaparecendo ao longe cria o olhar triste da criança que se afasta a caminho de sua casa, onde encontrará aqueles que não viram o Sol, nem se entristeceram pelo entardecer; apenas mais um dia quotidianamente vivido. Regresso frustrante e cambaleante. A única alegria de poder comer e dormir. No metropolitano, em todos os transportes públicos, rostos mudos, iguais, com as mesmas histórias que não contam, unidos apenas pelas mãos que agarram o varão. Sobreviver. Movimento uniforme em todas as direcções. O crepúsculo anuncia o silêncio de gritos abafados pelos salários necessários. Em casa falam dos problemas usuais, revoltas que se resumem no trabalho do dia seguinte. Inconformismo conformista. A cidade adormece por fim. Na noite vagabundos e garrafas de vinho celebram o dia-a-dia. Alguns marginais rompem a monotonia. Eles são o sinal, a coerência perante uma realidade opressora. A cidade está adormecida e não os ouve, nem os compreende, porque no dia seguinte há que funcionar.

Manhã pela alvorada. Mal despertos ainda, já lá vão em direcção ao trabalho.

sexta-feira, março 04, 2005

Apagão

Cheguei ontem à noite a Lisboa. Até aqui nada de novo e que não se repita duas ou três vezes por mês. Mas qual não foi o meu embasbacamento quando descobri que não tinha electricidade. Pois. Esqueci-me das últimas facturitas. Estava frio como um raio e pensei imediatamente em fazer uma fogueira com a mobília da avó. O retrato sépia do meu avô, pendurado na parede, com o seu ar imponente e o seu bigode monárquico impediu-me de tal. Resmunguei entre dentes, acendi quarenta e sete velas, abri uma garrafa de Casa de Santar - obviamente tinto, embrulhei-me em duas mantas e pus-me a reler "O Lobo da Estepe" de Herman Hesse. Estava à mão no meio da sala. Deve ter sido a última opção de leitura de uma das minhas sobrinhas. O título, pelo menos, veio mesmo a calhar. No fim da garrafa já não sabia o que lia mas rogava lúcidas e explícitas pragas. Ó que porra, que deve ser digno de orgulho e de realização profissional: cortador de energia a terceiros. Profissão inovadora, criativa e empreendedora. Salvé obreiros da escuridão e do frio. Proporcionadores de novas sensações. Revivalistas dos estados de alma enregelados dos pintores do início do Séc. XX am águas-furtadas de Paris. Sim senhor, de grande utilidade: diria mais, de grande visão futurista e concomitante perspectiva histórica. Adormeci embriagado e agradecido por tão novíssima e simultaneamente ancestral experiência. Hoje, depois de me terem explicado na EDP que os cortadores são os mesmos que os ligadores, vou aguardar a vinda dos mesmos para lhes fazer um brinde com vinagre de vinho ao momento de dar à luz. É que no meio do escuro é difícil escolher a garrafa certa.

terça-feira, março 01, 2005

Message to Sabina
- Gdansk telegraph

I'm standing outside
Facing the all sea
Waiting for the day
You'll come to me

I'm in the same table
The sun is now gone
I take a slow cigarette
And drink wine alone


hits. online
adopt your own virtual pet!

This page is powered by Blogger. Isn't yours?