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sexta-feira, julho 29, 2005

Agosto a gosto
Com Sol a Sul

Em primeiro lugar comecemos pelo princípio, pois nunca se conheceu melhor maneira de iniciar coisas. E de início é sempre este arrepio do horror estampado, contemplando a página em branco. Depois, a custo, molda-se a ideia, recicla-se em palavras, toma-se vigor e avança-se desbravando receosa ou heroicamente. Se houver engarrafamento de ideias o melhor é consultar a garrafeira - a prosa escoa melhor depois de lubrificada a mente. No entanto saiba-se de antemão que não se pode querer elaborar uma equação suprema. Consta que até Deus desistiu do projecto e o resultado está à vista na confusão que nos restou. Somos simplesmente o que somos. E por vezes nem isso sabemos ser. Há muito de taralhouquice nesta tarefa de habitarmo-nos. A consciência constitui-se de substância volátil e as certezas por vezes também se liquefazem. Sobretudo com whisky. Nada é garantido portanto. O individualismo está para durar, muito embora as individualidades andem frouxas e assarapantadas. Assente neste quadro de incertezas vai indo o homo-lusitanus à deriva com os seus líderes equipados com boías em forma de patinho, a fazerem planos para as férias e sem verem boía de soluções para o busílis nacional. Mas, de acordo com os especialistas na matéria, parece que o resto do Europa também vacila e agoniza, embora com Euros suficientes. Portugal, como é sabido, nunca teve verdadeiramente uma economia bem estruturada. Somos mais do género “conta de merceeiro” e fé no crédito renovado. Por seu lado os gajos fundamentalistas pressentindo a algazarra em todo o ocidente, decidem estoirar mais umas coisas - a bem da sua santa e empreendedora filosofia de exterminar todos os descrentes. É claro que teremos sempre os nossos políticos costumeiros e de cristã boa vontade com o ensejo de diálogo com o Islão. Tal como escrevi o ano passado no blog e volto a frisar, as primeiras perguntas a serem feitas nessa abordagem dialogante serão: "E qual era o vosso estado de espírito quando perpetraram os morticínios dos últimos anos? Costumam orar antes de estoirar? Estoiram melhor em jejum? Os vossos psiquiatras têm acesso à leitura de obras de Freud ou de António Lobo Antunes? Conhecem a tradição ocidental do cocktail molotov?" Definitivamente vai ser muito enriquecedor o diálogo com o Islão. Bem faz o cão da minha irmã em alhear-se de tudo: chama-se Gil, gosta de iscas, encavalita-se em todas as cadelas da vizinhança, é portador de comprovado pedigree e não lê qualquer artigo sobre a situação política internacional. Também eu sou um tipo porreiro embora já não me encavalite tanto. E não é ferrugem a causa, é crise de mercado feminino com espírito aberto. Arre! que até de férias não dão tréguas à mentalidade namoradeira com perspectiva casadoira. Está bem, pronto, existem as inglesas, as holandesas e as nórdicas. Que Deus as abençoe e mantenha frívolas. Ah! e Espanha já aqui ao lado. Preocupante, contudo, é o preço do marisco e do vinho compatível. Caramba, e as horas de vida que o emprego nos tira! Mas trabalhar na área do turismo tem os seus encantos. Especialmente trabalhar para o bronze. Do que gosto mesmo é de ver todos os portugueses a desembocarem abruptamente no Algarve no dia 1 de Agosto, para não perderem o hábito encantador das filas e das esperas. Oh! a serenidade dos amontoados humanos nos areais e dos enfileirados no mar, a alegria dos carrinhos de choque nos supermercados, a virtude da paciência das horas inteirinhas de retorno da praia, a salutar hora e meia de abstinência à espera do bitoque e os louváveis quarenta minutos para sair da discoteca. Neste alucinante período desloco-me de moto e chego duas horas antes às casas de pasto. À noite para penetrar em qualquer espaço nocturno grito: “Saiam da frente! Mulher grávida!” Vendo bem até me divirto. Porém não paro de me espantar com os rituais dos veraneantes portugueses. Tenho pensado seriamente em persuadi-los a mandarem apenas o cheque e nem aparecerem por cá, era melhor para toda a gente. Ficávamos, todos nós e todos vós, muito mais tranquilos e descansados. E como não sou de rancores nem tenho mau feitio: sejam, portanto, bem-vindos a mais uma balbúrdia mensal conjunta.

quinta-feira, julho 28, 2005

Solidário com todos os pais que têm uma certa dificuldade em adormecer os seus rebentos em noites de férias, mais ainda para quem esteja acompanhado pela sogra, fica uma melodiosa CEGARREGA PARA CRIANÇAS
do Mário-Henrique Leiria

A Velha dormindo
o rato roendo
a Velha zumbindo
o rato correndo
a Velha rosnando
o rato rapando
a Velha acordando
o rato calando
a Velha em sentido
o rato escondido
a Velha marchando
o rato mirando
a Velha dizendo
o rato escutando
a Velha ordenando
o rato fazendo
a Velha correndo
o rato fugindo
a Velha caindo
o rato parando
a Velha olhando
o rato esperando
a Velha tremendo
o rato avançando
a Velha gritando
o rato comendo

quinta-feira, julho 21, 2005

Novamente em Lisboa. Depois de ter conhecido a nova barata que me veio visitar junto ao estirador e enquanto limpava pó entre prateleiras e encaminhava aranhas para outros condomínios que não os meus livros, dei de caras com a "antologia da novíssima poesia catalã", traduzida por Manuel de Seabra. Reli a coisa após vinte anos e deixo-vos alguns registos:

Introdução
Reconheço
que o retrato dos meus avós
tem muita dignidade,
mas a mim
que me retratem
tal como ando:
com o cu furado.

Joan Vergés


Onde vendem diversão?

Hoje é Domingo e temos de nos divertir
seja por que preço for.
Onde vendem diversão?
Amanhã será Segunda
e começará a roda outra vez.
Onde vendem diversão?

Não podemos ficar a olhar,
as horas passam,
a noite nos agarrará,
e amanhã temos de nos levantar cedo.
Onde vendem diversão?
Seja por que preço for.
Onde vendem diversão?

Uma das poucas
mas grandes vinganças
a que me posso permitir,
é pensar que todos os meus inimigos
têm a mulher frígida.
*
Passei anos inteiros a enganar-me
de boa fé, mais do que muitos outros.
Mas agora reparo,
que com vantagem,
fui muito mais longe do que muitos daqueles
que sem se enganarem tanto,
se satisfizeram com meias verdades.

Enric Larreula


Eh! estudante, compra um elefante.

Pede "massa" ao teu pai
e vai às aulas em cima dele.
Tanto faz chegar tarde ou cedo,
Não o leves para dentro, deixa-o fora.

Eh! estudante, compra um elefante.

Com ele já não terás de correr
e com a sua tromba farás chover.
E se lhe pões uma escada
ninguém poderá cortar-te o passo.

Eh! estudante, compra um elefante.

Não temas, é um veículo prático,
e podes deixar-lhe os livros na orelha.
O suco que vai largando cola
as páginas do livro mais chato.

Eh! estudante, compra um elefante.

Vai bem seguro e sê consequente,
nós gostamos da tua pele.
Digo-te isto em nome da gente
que espera de ti mais que uma carreira.

Eh! estudante, compra um elefante.

Ovidi Montllor

segunda-feira, julho 18, 2005

A todos aqueles a quem estas coisas, viscerais e internas, embora de reflexo filosófico e político, possam interessar, muito também para os eternos cuscos das vidas alheias e outras alimárias com falta de sentido de orientação, ainda assim para os potenciais esquartejadores da minha carcaça psicológica, ademais adiante por necessidade ontológica de posicionamento num mundo de dicotomias primárias para uso de básicos seres encarneirados, tenho a afirmar o seguinte, duma vez por todas e para nunca mais: NÃO ESTOU À DIREITA, NEM ESTOU À ESQUERDA! ESTOU ACIMA!!!

quarta-feira, julho 13, 2005

Pronto, pronto! Devido à indignação chocadíssima da "minha leitora predilecta", fica o registo alterado para: ABRENÚNCIO BARREIRO! Foi um impulso meramente toponímico.

terça-feira, julho 12, 2005

E agora, um momento sério...

POIS DIGO-TE ISTO APENAS E NADA MAIS

Desce daí onde pensas estar altaneira
Tira a maquilhagem por cima das olheiras da existência
Despe o que vestes e despoja-te das máscaras para consumo social
Fica simplesmente nua com a alma exposta ao que esperas da vida
E vem ver o impossível que corre nas minhas veias
Também disponível em sonho adiado que se vai esfumando.

Vem ao meu encontro na noite dos meus pesadelos
Onde revejo as minhas derrotas e os meus fracassos,
Podes depois descansar na minha tempestade renovada
Como gaivota embalada ao vento, fustigada por chuva intensa
Sem abrigo ou destino e muito menos religião.

Vem entregar a tua sublime candura de ave pura
Que afinal nunca soubeste ser e se já o soubesses
O que farias comigo, eu rosa-dos-ventos de voos perdidos?
Somos singelas miragens num mundo concreto em convulsão
Mas disso não supões nada, e eu, infelizmente, pressinto tudo...

Não se podem verdadeiramente escrever poemas
Porque os autênticos poemas vivem-se e renovam-se
Ficam inscritos imaculadamente na carne ou no desejo
Até serem robustas cicatrizes na memória que esqueceremos
Impensados testemunhos anónimos da vida, de nós para nós apenas e nada mais.

segunda-feira, julho 11, 2005

Estive em Setúbal neste fim-de-semana. Para retemperar do calor e da galga, fiz escala com o meu filho na Portugália que fica junto ao Sado. Sítio encantador para uma abençoada e utilíssima instituição que já tamanha gula incentivou e tanta bebedeira proporcionou. Louvável e possante entidade, mui digna do nome que usa. Como já não aparecia por estas bandas havia bastante tempo, qual não foi o meu espanto quando vi pespegado de paredes meias com a citada cervejaria, o AMO-TE SETÚBAL - sim, mais uma daquelas coisas em cadeia do Pedro Miguel Ramos. Fiquei embasbacado de surpresa e cismado no assunto. Pois é, este meu mau feitio tem destas coisas. Céptico como um raio. Bem sei que as modas nunca tiveram grandes fundamentos filosóficos ou assento em qualquer utilidade. Aliás, a futilidade será sempre a única grande alavanca da moda. Mas convenhamos se não seria mais conforme ao estado geral da Nação, a criação de vastos espaços com o intuito de exorcismo social. Fica então uma salutar ideia para criação de uma nova cadeia de catedrais de catarse sociológico, para os desgraçados dos bons cidadãos de zonas suburbanas e outras aberrações periféricas: ABOMINO-TE CHELAS! ODEIO-TE CURRALEIRA! EXCOMUNGO-TE BURACA! TEMO-TE COVA DA MOURA! VADE RETRO BAIXA DA BANHEIRA! ABRENÚNCIO BARREIRO! ETCAETERA! ETCAETERA!

quinta-feira, julho 07, 2005

Mas pensando melhor...

Quando um alto dirigente da al-qhaeda estiver a organizar um atentado em Portugal, todos os acólitos perguntarão - aonde??? Ou, por outro lado, caso estejam bem informados, chegam à conclusão que já estamos fustigados demais, incendiados q.b., maltratados politicamente, logo amaldiçoados pelas altas esferas celestiais e, como tal, não valerá a pena tal incursão bombomaometista. Pelo sim, pelo não, convém nunca termos o cú virado para Meca.

Dá que pensar e terá de se acautelar
Depois dos horrendos acontecimentos de hoje em Londres, adivinhem só quem falta ser contemplado na lista negra dos estoiros reservados aos quatro primeiros países envolvidos no conflito do Iraque? Pois é.

domingo, julho 03, 2005

O meu colega António Fontainhas, depois de ter sido várias vezes assaltado, decidiu colocar um dístico na sua viatura automóvel, reza o seguinte:

ATENÇÃO

ESTE CARRO NÃO TEM NADA QUE VALHA A PENA ROUBAR. O RÁDIO ESTÁ AVARIADO. POR FAVOR NÃO ME DÊEM CABO DAS PORTAS. EU NÃO SOU RICO. OBRIGADO.

Aprovo, aplaudo e subscrevo.

Tenho andado afastado destas andanças, bem sei. Mas é Verão, o que é que querem? Além disso, sou um rapaz trabalhador e contrariamente ao que muita gente faz, no horário de trabalho, vejam bem, é isso mesmo que faço: trabalho. Não me ponho a postar. De noite, meu Deus, há tanto para viver com este calor. Eu sei que me compreendem e me perdoam estas fraquezas da carne. E etilicamente do espírito. Mas obrigado pelas visitas, embora não tenha correspondido às expectativas de quem o faça. Fica então o compromisso de me debruçar de novo sobre esse palco de loucura que é o nosso mundo e, é claro, expôr os meus respectivos e competentes delírios. De qualquer modo fica o conselho: vão à praia, bebam margueritas, dancem, seduzam e passem menos tempo frente a estas virtualidades, ou arriscam-se a ficar macilentos e decrépitos. Bem-hajam.

hits. online
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