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sexta-feira, setembro 30, 2005

Balada do casamento monótono

Coxo sem muleta
Tarado sem ninfeta
Prótese sem maneta
Doutrina sem profeta
Sou eu assim com você

Champagne sem bolhinha
Red bull sem asinha
Capela sem alminha
Bófia sem multinha
Sou eu assim com você

Cerveja sem carica
Lisboeta sem Caparica
Turista sem Martinica
Atleta sem genica
Sou eu assim com você

Careca sem capachinho
Salsa sem molhinho
Bébé sem soninho
Constipado sem lencinho
Sou eu assim com você

Tubarão sem dente
Centro de saúde sem doente
Pensador sem mente
Telescópio sem lente
Sou eu assim com você

Porque que é que tem que ser assim?
Se o meu desejo pode não ter fim
Eu não te quero em nenhum instante
Nem mil megafones
Vão poder falar por mim

Eu não existo perto de você
E a solidão é o meu melhor abrigo
Eu conto as horas p’ra te deixar de ver
Mas o relógio tá de mal comigo
Por quê? Por quê?

Aos seis anos queria ser cozinheiro. Aos dez queria ser Napoleão. A partir daí foi sempre a subir...
Salvador Dali

quarta-feira, setembro 28, 2005

Ora recapitulemos... Sabidas as matérias, dominados os grandes temas e revistas as hipóteses, um ser humano é esta amálgama de funções intrincadas, biológicas, filosóficas e sociais, com enredo da alma em grande plano ou simples projecto da mesma em esboço inacabado. A cada um a sua medida, que nada nos obriga a ser iguais. O destino de uma vida é coisa obscura e indefinida e o inevitável fim está lá sempre à vista. Ou, para os mais míopes, sempre desfocado. Nada disto interessa deveras ao regabofe do quotidiano, porquanto seja de acasos no tempo e truques no espaço que o essencial da vida floresce. Está portanto muito certo que a existência assente mais no inesperado caos no que na aspirada ordem. Postos os olhos nesta realidade, não nos devemos impedir de coisa alguma que a consciência nos dite – sempre que a alma seja impoluta e a vocação virtuosa, já que a aventura é a própria vida e a realidade suplanta sempre a mais elaborada ficção. Sendo o corpo o laboratório onde temos de experimentar tudo a que nos proponhamos, fica-nos por empréstimo uma réstia divina de espiritualidade para ajuizar toda a acção. Somos meras cobaias universais e paupérrimos aprendizes cósmicos. E quanto a grandeza humana, ainda vamos na pré-primária. Somos capazes das maiores atrocidades e sabemos praticamente nada. Porém, em reviravolta humanista e pirueta existencial, tenho apenas a afirmar que amputada a solidariedade, amordaçada a imaginação e mutilado o amor, resta-nos a miséria da tirania da religião económica. Por isso e por ser também já demais, ó utentes da cegueira, frequentadores da alienação, acólitos do poder e alimárias em geral, e muito posteriormente para as “execráveis gerações vindouras” do Samuel Beckett: albardem-se os burros à vontade dos donos!!! Nada mais quero nos dias de hoje, que não seja ser um triunfador solitário. Socialmente uivando e bramindo na ocasião pública se for caso para tanto. Mas adiante, que é urgente o que quer que seja ou mais tenha de ser, porque mesmo para a estupidez, no mundo actual, também tem de existir pressa.

terça-feira, setembro 27, 2005

Ooops...desculpem-me a tempestade etílico-espiritual de ontem à noite. Tenho de arrotar mais e escrever menos nesses momentos. Mas que o tipo que mas fez escrever estava a pedi-las, estava. Quanto a vós, leitores dedicados e lindos, sejam sempre bem-vindos a esta capelinha.

Pensamento egoísta da noite: para quê criar uma obra para vòs? O que me dá vontade de rir, só a mim diz respeito. Não são bem vindos como visitantes, não são recompensa em termos de afirmação. Gosto de vós, cadáveres potenciais do sentido crítico. O gozo, esse, é só meu. Desculpem-me se existo!

quarta-feira, setembro 21, 2005

Sílvio Frio in Arco-Íris, Caderno de Ideias Literárias - Maio de 1978
soneto 34 do livro então em preparação dispersa (desconheço se foi editado) SONETOS JANTIGOS (em nº de 52)

34. Descarto-me

Eu sei o que sei e já não é pouco,
quando cá cheguei já tudo estava assim.
Assim como assim lá me vou entendendo,
se sei sigo adiante e se não sei pergunto.

No essencial (ora bem) isto é obra de um louco,
não há ordem alguma, nem princípio nem fim;
cansem-se os filósofos, quanto a mim defendo
deixar tal como estão os mistérios do mundo.

Compreender alguma coisa é uma pura arrogância
quando há gente aos milhares morrendo na miséria,
mas lutar é improvável, nada há que nos junte,

algo de comum que permita (ó redundância)
agir: escrever, intervir, tudo isso dá matéria
ao riso. Eu quero lá saber: cogito ergo non sunt.

segunda-feira, setembro 19, 2005

Não resisti: "quantos funcionários públicos são necessários para mudar uma lâmpada em Portugal?"

domingo, setembro 18, 2005

Podendo sempre repetir-se sem desgaste

Preenche-me como se eu fosse um formulário
Que fornecesse todo o balanço da tua vida
Conta-me depois o que tens sonhado
E embala-me, embala-me eternamente

Já não sei dormir sem as tuas mãos por perto
E ao corpo falta sempre outro corpo por certo
De modo que a matéria faça algum sentido
Para que a alma seja gémea e não perdida

Sei que sabes o quanto sei do que somos
E mesmo na confusão dos dias que temos
Nada pode contra a terna aflição que nos une
Porque é da fragilidade que crescemos

Suponho que saibas e sintas como é plena a quietude
Que nos invade quando o mundo dorme ressonando
E que nessas madrugadas em que nos procuramos
Somos apenas a única e última realidade que achamos

E creio piamente que saibamos como é verdade
Não haver muito mais coisas para dizer, pois
Que no teu silêncio sempre me encontrei e ouvi
As mais belas sinfonias da minha existência

Curioso, ser o amor coisa imensurável
E a sua linguagem tão reduzida no entanto
Podendo sempre repetir-se sem desgaste
-Meu amor, meu amor, meu amor...

quarta-feira, setembro 14, 2005

E mais uma vez Américo Radar em...

O mar em chamas

todos os livros que leio me falam da tua morte
mas não se pode acreditar em tudo o que se lê
e sabendo embora que a tristeza não existe
não posso deixar de me sentar com a cara apoiada numa das mãos

a vida é uma doença de que alguns se curaram
passo os dias sentado num café à distância
e entre mim e mim existe já uma intimidade insuportável
(como dar de novo ouvidos aos mestres de outrora?)

fui dos que julgaram ter nascido para tornar grande o mundo
mas atrasei-me de propósito num quarto cheio de homens
- procuro perceber que tempo é que me cabe -

uma noite fui visto a lançar fogo ao mar.

terça-feira, setembro 13, 2005

Das boas famílias seduzem-me apenas as ovelhas negras.

quinta-feira, setembro 08, 2005

O post anterior é o que dá ter acesso a um computador às duas da matina num bar dum amigo. Se fez sentido então, algum sentido há-de ter. Está dito, fique inscrito.

Com o devido respeito, nada há que respeitar dos contemporâneos, o brilho da vida já o tenho há muito, o medo da morte suplantei-o por aprendizagem indizível. Encontramo-nos todos lá. Eu serei o da garrafa da viúva clicquot na mão... Sempre! Para a minha leitora predilecta!

É suposto ser do domínio da loucura este espantar a normalidade. É suposto ser da normalidade este assustar-se da loucura. É suposto o conviver das duas em comunhão de contrários. É suposto...

quarta-feira, setembro 07, 2005

Não há nada melhor que um grupo de gente inteligente ociosa.

terça-feira, setembro 06, 2005

Não há nada pior que um grupo de gente estúpida feliz.

domingo, setembro 04, 2005

Em Lisboa releio o Arco-Iris V, caderno de ideias literárias de Maio de 1978, e deparo com
A substância da saudade

fico à noite a escutá-lo
muito quieto entre a
frincha de luz na janela e a
luz que vem das traseiras da casa.
devo dizer que isto se passa a horas silenciosas.
posso perceber cada distensão
o estremecer entrecortado
do meu corpo.
as fibras que ainda não adormeceram.
nessas alturas a memória
enche-se de imagens é nelas que
reconheço o sal excessivo no passado
e as demasiadas viagens prematuras
(rostos e cidades que encontrei sózinho
nunca estás comigo aonde
te procuro. não estavas comigo em paris
nem nos diversos comboios
que me transportaram. se te encontro
dou-te de mim a versão de que me lembrar
na altura. nunca estás ali para me
censurar para me dizer não foi assim.
não viste. é assim que te vou sentindo a falta.)
se ao menos acabasse de ler
aqueles livros que
já trago no saco há tantos dias.

amanhã acordo
o telefone avisa-me que existo
mobiliza-me o rádio
e o jornal desgosta-me
(tantas mortes)
saio para a rua
mas há muito tempo que me levanto tarde
os homens dão-me de si uma
imagem já cansada é
com ela que me governo.

a cidade está cheia de coisas proibidas
os semáforos as montras das relojoarias
uma ginja que beba
um cigarro que enrolo (nunca mais me habituo
a fumar cachimbo)
os olhos seguem as mulheres que passam.
eu evito escrever
eu sei que se escrevesse...

mas agora aqui deitado
como posso lembrar-me de tudo isto
e estar ao mesmo tempo tão cansado
de tudo e tão atento?

agora talvez possa adormecer
agora tal
vez
possa a
dor
merecer.

Américo Radar

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