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sábado, outubro 29, 2005

Apesar de estar oficialmente de férias laborais - e já agora bloguísticas, até dia 9 de Novembro, não posso deixar de vir a esta casa para dar os parabéns pelo ano inteirinho de posts da alma irrequieta no Mondego. As minhas desculpas ao Luís Simões por tardar na saudação, mas nestas coisas de aniversários sou bastante tramouco, tendo já chegado a esquecer-me do meu próprio aniversário de nascimento.

quarta-feira, outubro 26, 2005

E também...

...Não choro o meu velho quinhão de alegria divina: o ar austero desta terra pouca alimenta muito activamente o meu atroz cepticismo. Mas como o meu cepticismo deixou de ser manobrável e me votei a uma ânsia nova - fico à espera de ser um louco muito perigoso.

Em Lisboa demorada e calmamente releio este senhor:

...Aqui exilado, tive um palco para representar as obras-primas dramáticas de todas as literaturas. Ter-vos-ia mostrado riqueza inaudita. Observo a história dos vossos tesouros. Vejo a continuação! Para vós, a minha sabedoria é tão desprezível como o caos. Que é o meu nada, comparado ao horror que vos espera?

Jean-Arthur Rimbaud

sábado, outubro 15, 2005

E agora, são férias senhores, são férias!...

Mas antes de me ir embora pelos próximos quinze dias, fica por aqui um pequeno contributo, retirado dos DITADOS POP - dum amarelecido SULturas, para a foleirada moderna:

Se queres ter a vida equilibrada, não faças absolutamente nada.
Se a coca não te dá speed, apanha o comboio e vai a Madrid.
Se o álcool te faz mal à tola, bebe apenas coca-cola.
Se gaguejas quanto estás a engatar, diz "quero mocar" a cantarolar.
Se a timidez te incomoda, snifa muito e sê da moda.
Se não tens os impostos em dia, bem podes rezar uma avé-maria.
Se não te deixam ser feliz, vai tirando melecas do nariz.
Se os outros andam mal contigo, fala mais com o teu umbigo.
Se ainda não te bateu o ecstasy, não vás ao wc fazer chichi.
Se o mundo de repente se acabar, não saias de cá a vomitar.
Se por acaso acreditas demais, és bom leitor de jornais.
Se tudo te corre sempre mal, dá quecas que nem um animal.
Se o banco não te dá crédito, pede à gerente um felattio inédito.
Se queres ser bom filho-da-puta, sacaneia todos e entretanto labuta.
Se os tampões não te encaixam bem, compra rolhas como convém.
Se queres ter sucesso na vida, não espetes a piloca onde não é devida.
Se não sabes o que dizes, também não digas o pouco que sabes.

E porque estou em Lisboa fazendo escala para Torremolinos seguido de Sevilha onde eventualmente voarei para Londres, fui reencontrar o António Patrício, in "serão inquieto" - Edição Assírio e Alvim, dita o seguinte:

Nietzsche definiu a glória "a falta de pudor na admiração". No meu país, é a falta de pudor na incompreensão.

Portugal é um navio naufragado em que a tripulação espera há séculos...

Receita para fazer sucesso: condensar a banalidade, dar-lhe ênfase e imprimi-la em maiúsculas...

Recomecemos. As contrariedades do quotidiano, as vicissitudes da existência, a realidade social que já fede e o tédio acumulado da pasmaceira circundante, leva-nos a isto: acidez e consequente vómito, isolamento e consequente desencanto. Abomino-me nesta vertente. Mas não a consigo evitar. E não é assim com todos? - ou definitivamente com os que pensam. Esquecemos com frequência a utilidade duma boa gargalhada como poderoso antídoto da estupidez, da hipocrisia e da maldade e retaliamos com as mesmas armas, restando-nos este protelar para nunca mais o estar bem com o mundo. Se bem que o mundo talvez não o mereça, certamente merecemo-lo nós. Depois, será sempre preferível a franqueza do salutar sarcasmo e da imaginativa ironia à rabujice taciturna e devastadora do “tudo está mal”. Não está. Nós é que podemos estar menos bem ou mais interpelativos. Àparte isso o mar continua lá em vai-vem perpétuo para nos polir a alma, o céu continua azul para nos oxigenar o espírito, a terra continua a ser o melhor sítio para se viver, o amor continua à solta para quem o encontrar, a vida prossegue sem pedir autorização e viver custa apenas o incontornável imposto da perenidade. Pelo menos para nós, felizardos ocidentais, egoístas e civilizados.

segunda-feira, outubro 10, 2005

Em dia de eleições locais e tudo o mais que isso acarrete, no meu deslumbramento cínico e céptico da alvorada lusitana adiada, na portuguesa alma repleta de boçalidade de província europeia que nem sabemos ser, no colectivo afogamento nos problemas de esgotos e saneamento, literal ou não, na salutar filosofia do buraco na estrada, nas múltiplas virgens da aflição popular, no raio que nos parta por tão pouca intervenção social e por tão coxa cidadania, e muito ainda pelos meus filhos que desconfiam quase nada disto tudo; dedico esta

Breve ode ao português

o bom português
não se escusa à virgem maria no "tablier"
ou à ferradura no pára-choques como sinal de fé

o bom português
não prescinde da unha comprida,
do dedo mindinho, para coçar o nariz
nem de uma procissão política como salvação

oh bom português!
tudo farei por ti, acredita
até mesmo este emprestar de dentes,
que não tenho, para que não te falte o sorriso

responsabilidade da imensa alma irrequieta no Mondego

And now something completamente diferente
Constatação fodida com base em observação periscópica
Só na excepção mental a pindérica e falsa concorrência facturante fictícia poderá ter evolução real.

Constatação intemporal com base em observação anacrónica
Só na excepção mental a História poderá ter evolução real.

Constatação local com base em observação periódica
Só na excepção mental a autarquia poderá ter evolução real.

Constatação cruel com base em observação metódica
Só na excepção mental a humanidade poderá ter evolução real.

quarta-feira, outubro 05, 2005

E bastante mesmo, porque o SULturas em versão papel reciclado está a congeminar a sua
saída para as ruas, foi descobrir em rascunho ancestral a seguinte ladainha do Mário Bacelar

Um ser talvez possível


Expor o crânio e as ossadas
Tirar o esqueleto para fora e ser osso

Deixar a carne no deserto
(um resto eu massa informe suculenta a antropofagias)
E ser só osso lascado

Condensar dentro de uma garrafa toda a imperfeição
E estilhaçar a ira
Desfocar tudo, até tudo ser abstracto

Sentir um arrefecimento mineral e arrasar o tédio

Ser um vírus dentro de uma sociedade patogénica
Ulisses intravenoso imune a rastreio

Não ser um sinistrado da vida!

Ter o rosto dos dias sulcado de venenos
Riscar cada risco um a um
Mudar a pele, largar a dor
E todos os riscos serem apenas desenhos na areia...

Esperar a maré a construir desejos!

Amputar os pensamentos (na ponta da língua)
Perigar os pensamentos (de forma progressiva)
Absorver os pensamentos (por via digestiva)

Abafar todos os pensamentos
(que as vísceras da inteligência são petiscos para alguns)

E ser cacto
Gota
A
Gota

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